Hoje, várias iniciativas de gestão e coordenação de interesses têm sido percebidas através da internet: neste ambiente, a sintonia produtiva entre múltiplos esforços de solução de problemas e os recursos da Tecnologia da Informação, traduzem-se em modificações substanciais no modo e na interação do debate político, alterando a realidade do espaço social e das instituições.
Programas governamentais em diferentes Estados do mundo provaram que a reinvenção do governo através do ciberespaço é possível e palpável. A forma e a capacidade de todo processo decisório pode ser potencializada através da internet como possibilitadora de organização e comunicação de idéias e de notas técnicas: desde a década de 90, a web e as redes de informação influenciaram tanto em suas estruturas estatais, quanto em relação entre estas e seus respectivos concidadãos. Não é à toa que grandes estados autoritários como a China e expoentes do oriente médio - atualmente sofrendo com o potencial da articulação pela internet - obstruem, bloqueiam e filtram as informações da internet em seu domínio, realizando um controle social seletivo dos mais sofisticados do mundo.
É possível então, usar esta ferramenta tão potencial nos redutos democráticos pelo seu poder de deliberação e participação e ao mesmo tempo tão temida pelos regimes de exceção, para fomentar a discussão propositiva e o debate sobre a Universidade de São Paulo? Não poderia oferecer também espaço para debates outros, do movimento estudantil e como relevante plataforma para os diversos projetos de extensão, que na maioria das vezes recebem forte negligência por parte do caráter "pesquisitivista" da universidade?
Podemos acreditar que sim. Um sítio de dados - com fóruns de debate e deliberação - acelera processos de decisão, incluem mais pessoas, reduzem os custos de tempo e pesquisa para o público (pela facilidade de busca e compartilhamento em tempo real) servindo também como uma instituição deliberativa pública, sem distâncias físicas, com comunicação assíncrona (sem necessidade de reuniões onde todos participam ao mesmo tempo, necessariamente) e de alta memória virtual para o armazenamento de dados em formato digital, recuperáveis e de livre acesso (FOUNTAIN, 2005).
O aluno comum, interessado, pode ter contato com as discussões - como comenta o professor Fernando Coelho - "up to date", interagindo e expondo seu ponto de vista diante dos temas tratados, e sua visão junto ao exercício do seu curso ou visão de mundo. Os alunos envolvidos com a militância por intermédio do Movimento Estudantil podem dar vazão às suas idéias e métodos de práxis, dividindo suas ações transformadoras, propostas e inspirações. Os grupos de extensão universitária podem encontrar neste espaço um multiplicador de experiências e de métodos de planejamento e projeção de seus objetivos junto aos espaços da sociedade em contato de troca com a universidade. Os professores podem usar o espaço para adensar sua visão crítica acerca das dificuldades de ensino, ou até mesmo dividir suas opiniões ilustradas pelas suas experiências e pesquisas. Trata-se de um caminho sem limites, onde a busca pela mudança e a presença real do debate puro - e propositivo - podem gerar mudança e, de acordo com a pressão necessária, servir também de apoio ao processo decisório dos servidores públicos ligados à direção e coordenação da universidade.
Poderemos, assim como Jane E. Fountain tipologicamente chama de Estado Virtual, produzir uma Ágora* Virtual: um espaço livre, público, onde a webcidadania pode ser exercida e mudar os rumos da universidade, sendo um dos meios de materializar sua capacidade de transformação de si mesma e da sociedade.
* Ágora era o espaço público principal da polis, o modelo de cidade grega da antiguidade. Tratava-se de um reduto onde as pessoas comerciavam e apresentavam relações sociais multidiferenciadas junto ao espaço público: era onde o "comum" ou "koinon" ganhava forma, e os cidadãos conviviam com a realidade política “outro”; da presença de seus pares.
EMBASAMENTO TEÓRICO:
- FOUNTAIN, Jane. Construindo um Estado virtual: tecnologia da informação e mudança institucional. Brasília, ENAP, 2005.
- PARENTE, Laura. "O que está acontecendo com o governo eletrônico?". Disponível no site Políticas Públicas em Foco – Boletim Fundap-Cebrap.
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